Vitaly e Kiryl: amor, liberdade e conforto
Dia Mundial do Turismo 2021 | #TimeToEmbrace #TimeToBe
Comemoramos o Dia Mundial do Turismo. Nos últimos anos, a indústria do turismo teve uma enorme expansão e crescimento, por isso é importante sublinhar como a abertura e a inclusão desempenham um papel crucial na melhoria das relações sociais, culturais e económicas. Mas o melhor é deixar que outras pessoas falem sobre a sua vida em Portugal…
Apresentamos Vitaly e Kiryl, um casal de Minsk, Bielorrússia a viver em Almada.
Sentados numa esplanada com uma vista interminável sobre o Rio Tejo, uma Lisboa que nos observa lá ao fundo e um sol que não dá tréguas. É assim que encontramos Vitaly e Kiryl. Imaginem duas pessoas serenas, de olhar curioso e inegavelmente felizes. São eles.
O local de encontro é na Casa da Cerca, em Almada, lugar inesquecível que Vitaly e Kiryl visitaram no primeiro dia da vida a dois em Portugal.
Provenientes da Bielorrússia, escolheram Almada como o lugar onde haveriam de começar do zero. Estão juntos há 11 anos, quase metade dos quais vividos em Portugal. Casaram na bela vila de Sintra e pelas muitas viagens que fazem pelo nosso país, poderá dizer-se que Portugal é testemunha de honra desta relação.
“Visitámos Portugal pela primeira vez em 2013 e ficámos duas semanas de férias em Cascais. Passeámos por toda a região de Lisboa e divertimo-nos imenso. Voltámos de férias ainda uma outra vez. Portugal claramente tinha-nos marcado de alguma forma. Nestes últimos anos, começaram a surgir algumas dificuldades do ponto de vista político e de direitos LGBT na Bielorrússia e decidimos procurar outro lugar para vida. Portugal veio à nossa mente pelo seu ambiente calmo, pelo espírito amigável, pela sensação de conforto, a segurança, o bom clima e… «comida», disseram Vitaly e Kiryl em uníssono.”
Em 2017, Vitaly e Kiryl instalaram-se definitivamente em Almada. Alguns anos depois de trabalhar em empresas portuguesas, lançaram o seu próprio negócio: organizar casamentos para casais do mesmo sexo provenientes de países da antiga União Soviética. A lei portuguesa não só permite casar pessoas do mesmo sexo, como também permite casar turistas.
Quando lhes perguntamos acerca das dificuldades, Vitaly responde com gentileza:
“Chegámos cá com muito amor pelo país. Foi uma escolha de coração. Todas as dificuldades foram encaradas por nós como uma parte natural da vida. Nada nos assustou, estivemos sempre tranquilos. Estávamos preparados para tudo, por isso, a nossa experiência foi fácil. Interpretámos tudo desta forma.”
Aqui em Portugal, seja pelo nosso trabalho, seja pelo número de pessoas que fomos conhecendo ao longo dos anos, acreditamos que os portugueses sabem receber bem aqueles que vêm de fora. A nossa missão é efetivamente essa: receber bem. Perguntámos a Vitaly como foi o seu processo de integração, principalmente vindo de um país com uma cultura e língua bastantes diferentes.
“O sentimento de pertença, de me sentir em casa demorou cerca de dois anos a chegar. Não houve nenhum clique, foi um processo muito gradual. Depois de ter passado aquele efeito «filtro turístico», chegou o conforto natural de quem já é local. Senti-me sempre feliz porque nunca me senti desapontado.”
Kiryl partilha uma experiência um pouco diferente:
“Quando recebi a autorização de residência, mal podia esperar para ir visitar a minha família. Voltei a Minsk por uns dias e adorei essa viagem. Mas quando regressei, senti que estava a voltar para casa. Que Portugal é que era a minha casa!”
De uma forma natural e orgânica, este simpático casal foi encontrando o seu espaço no nosso país. Aprenderam a língua portuguesa [toda esta entrevista foi mantida em português], porque consideram uma forma de respeito pelo país, pelo povo, pela cultura e pela história.
“A nossa vida é bastante tranquila. Gostamos de começar o dia no café do bairro, bebemos um abatanado. Não ligamos muito aos restaurantes da moda, gostamos é de tascas e locais típicos. Adoramos passear na zona ribeirinha, junto ao rio, e pela cidade.”
Pelo meio, como contam, há muitas, muitas viagens.
“Vivemos cá há 5 anos e todas as viagens que fizemos, excetuando uma vez a Sevilha, foi em Portugal: Açores, Madeira, Amarante, Braga, Porto, Serra da Estrela, Coimbra, Zêzere, Costa Vicentina, Algarve. Cada lugar é único. É incrível como se trata de um país tão pequeno e com tanta diversidade. Não sentimos a necessidade de sair do país, essa é que é a verdade.”
Que Portugal continue a ser uma fonte perene de inspiração e conforto. Tudo parece apontar nesse sentido.
Photos by @nashdoeswork